Futuro dos juros divide analistas mesmo após inflação abaixo do esperado

Os diretores do BC (Banco Central) voltam a se reunir na próxima semana com a missão de definir o futuro da taxa básica de juros, a Selic. Ao deixar os próximos os em aberto no último encontro, a autoridade monetária alugou um tríplex na cabeça dos analistas do mercado financeiro. Eles divergem sobre a possibilidade de fim do ciclo de alta dos juros mesmo com a inflação de maio abaixo das expectativas.
O que aconteceu
Banco Central deixou em aberto fim do ciclo de alta da taxa Selic. Na ata da última reunião, o Copom (Comitê de Política Monetária) defendeu o compromisso de direcionar a inflação para o centro da meta e ressaltou que os próximos os permanecem incertos, devido a um "cenário de elevada incerteza". Segundo a autoridade monetária, ainda há preocupação com os impactos efetivos do ciclo de ajustes.
Inflação abaixo das expectativas traz esperança pelo fim do ciclo. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de maio foi de 0,26%, taxa 0,11 ponto percentual abaixo das previsões do mercado financeiro. Mesmo diante do arrefecimento do índice oficial, a aposta no fim da trajetória de seis altas consecutivas da taxa básica de juros ainda não é unanimidade.
O resultado [do IPCA] deve consolidar a expectativa de fim de ciclo de alta da Selic, apesar de ainda vermos uma alta residual de 0,25 ponto percentual como provável, tendo em vista a declaração de membros do Copom nas últimas semanas.
André Valério, economista sênior do Inter
Índice acumulado em 12 meses permanece acima do teto da meta. Mesmo com a desaceleração de maio, o IPCA registra alta de 5,32% entre junho de 2024 e maio de 2025. A variação é 0,82 ponto percentual acima da tolerância de 1,5 ponto percentual para a meta de 3% definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional). Para que o BC não precise se explicar ao governo pelo furo do teto no primeiro semestre, é necessário que a inflação seja negativa em ao menos 0,57%.
Projeções do mercado mostram Selic inalterada até o fim de 2025. A perspectiva de manutenção da taxa básica de juros em 14,75% ao ano nas próximas cinco reuniões do Copom é formada a partir da mediana das expectativas dos analistas consultados pelo BC. As previsões individuais variam até 15,25% ao ano.
Juro é a principal ferramenta de política monetária para conter a inflação. Com o recente avanço dos preços, a elevação dos juros básicos é utilizada como alternativa para limitar o consumo e, consequentemente, segurar a alta dos preços diante da manutenção da disponibilidade de alimentos e outros bens.
O que diz quem prevê nova alta
Nova elevação levará a Selic ao maior patamar desde junho de 2006. Sara Paixão, analista de macroeconomia do InvestSmart XP, afirma que a nova elevação dos juros básicos será determinante para consolidar a perda de força do mercado de trabalho e controle efetivo da inflação.
O mercado ainda espera um ajuste final de 0,25 ponto percentual e a manutenção durante o ano, refletindo a desancoragem nas expectativas, o aquecimento do mercado de trabalho, que também é um driver para inflação e os estímulos fiscais, que podem aquecer ainda mais a atividade econômica.
Sara Paixão, analista de macroeconomia do InvestSmart XP
Perspectiva por nova alta dos juros considera declarações recentes. Parte dos analistas que projetam elevações da taxa Selic na próxima semana afirma que as expectativas são baseadas em manifestações dos diretores do BC. "Antes, esperávamos o fim do ciclo em 14,75%. Essa alteração reflete a mudança de tom usado pelo Copom, que ou a indicar implicitamente a possibilidade de novos aumentos", destaca a equipe de macroeconomia do ASA.
O que diz quem vê fim do ciclo
Taxa no maior nível em quase 20 anos já traz os primeiros resultados. Para aqueles que projetam a manutenção dos juros em 14,75% ao ano pelo menos até dezembro, a inflação divulgada hoje já mostra os primeiros sinais de sucesso da política monetária restritiva.
Percepção foi ampliada com análise aprofundada da inflação de maio. Gustavo Rostelato, economista da Armor Capital, reconhece que a inflação dos serviços subjacentes segue em um nível elevado. Ainda assim, ele observa que existe uma tendência de arrefecimento dos núcleos do IPCA. "Trata-se de um número que traz alívio para o Banco Central e abre espaço para a discussão sobre a manutenção da taxa de juros", avalia.
A resposta já pode ser percebida na curva de juros futuros, que registrou um leve recuo. Apesar de o movimento ainda ser discreto, pode sinalizar uma transição para uma política monetária menos restritiva no médio prazo.
Paulo Cunha, CEO da iHub Investimentos
Queda dos juros está mais distante e deve acontecer somente em 2026. "O Copom não vai elevar os juros na sua próxima reunião, com a Selic sendo mantida em 14,75% ao ano pelo menos até o final de 2025, uma vez que, se não parece mais necessário elevar os juros e não há espaço para quedas no curto prazo", projeta Luis Otávio Leal, da G5 Partners.