Investigação revela que grupo Wagner sequestrou e torturou civis no Mali, país de onde anunciou sua retirada
O grupo paramilitar Wagner anunciou recentemente sua retirada do Mali, após três anos e meio de presença no país. Uma investigação do coletivo de jornalistas Forbidden Stories, que protege informações e outros profissionais da informação ameaçados, revelou que, neste período, o grupo paramilitar sequestrou e deteve centenas de civis em antigas bases da ONU e em campos militares compartilhados com o Exército malinês.
Depois de relatar a detenção ilegal de civis ucranianos em territórios ocupados pela Rússia, o coletivo Forbidden Stories, continuou sua investigação no Sahel, para onde o grupo paramilitar russo exportou seus métodos de detenção e tortura.
Os entrevistados para a investigação, que estão em campos de refugiados na Mauritânia, testemunharam os abusos sofridos nas prisões dos mercenários russos.
Alguns sobreviventes descreveram ter sido submetidos a simulações de afogamento, espancados com cabos elétricos e queimados com pontas de cigarro. A investigação revela uma série de abusos: "sequestros, prisões arbitrárias, falta de contato com o mundo exterior e tortura sistemática ? às vezes até a morte".
O coletivo identificou seis locais de detenção ? Bapho, Kidal, Nampala, Niafunké, Sévaré e Sofara ? onde o grupo paramilitar russo manteve civis presos entre 2022 e 2024, mas o número pode ser "muito maior", segundo a Forbidden Stories.
O trabalho investigativo foi realizado em colaboração com o canal francês 24 (mesma empresa da RFI) o diário francês Le Monde e o site russo independente IStories.
Violações dos direitos humanos
Desde os dois golpes de estado em 2020 e 2021 que levaram a junta liderada pelo general Assimi Goïta ao poder, o Mali rompeu sua aliança com a França para se voltar militar e politicamente para a Rússia, principalmente recorrendo aos serviços de Wagner, para ajudar na luta contra os grupos jihadistas que mataram milhares de pessoas no seu território.
Na sexta-feira, um canal do Telegram afiliado ao grupo anunciou que os paramilitares deixariam o Mali. Seus membros serão integrados a unidades do Africa Corps, organização sob o controle do Ministério da Defesa russo.
Desde que Wagner chegou ao Mali em 2021, várias denúncias de violações dos direitos humanos foram feitas por grupos de investigação internacional e de defesa de direitos humanos.
Em um relatório, a ONU acusou o Exército malinês e combatentes "estrangeiros" de executar pelo menos 500 pessoas durante uma operação antijihadista em Moura, no centro do país, em março de 2022. A acusação foi negada pela junta malinesa.
Segundo fontes ocidentais, esses combatentes estrangeiros eram membros do Wagner. Em abril, corpos foram descobertos perto de um acampamento militar malinês, poucos dias após o exército e os paramilitares do Wagner terem prendido dezenas de civis, a maioria da comunidade Fulani.