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Economia melhora; imagem, não: Aliados veem Lula 'sufocado' por crises

O presidente Lula em evento no Palácio Itamaraty: cada dia mais preocupado - EVARISTO SA / AFP
O presidente Lula em evento no Palácio Itamaraty: cada dia mais preocupado Imagem: EVARISTO SA / AFP
do UOL

Do UOL, em Brasília

13/06/2025 05h30

No Palácio do Planalto, diz-se que há uma boa e uma péssima notícia nestas últimas semanas: a economia segue mostrando melhora progressiva, como esperavam, mas a imagem do governo Lula (PT), não. A pouco mais de um ano das eleições, reclamam de fórmulas repetidas e mostram cada vez mais preocupação com 2026.

O que aconteceu

O Boletim Focus, do Banco Central, voltou a reduzir a estimativa de inflação nesta semana. O mercado prevê inflação em 5,5% ao final do ano, na quarta semana consecutiva de queda, quando a expectativa estava em alta de 5,57% dos preços, embora permaneça acima do teto da meta (4,5%).

A expectativa de crescimento da economia aumentou. Os analistas do mercado financeiro elevaram as projeções de avanço do PIB, a soma de todos os bens e serviços finais produzidos no país, de 2% para 2,02%. O dólar também tem expressado frequentes melhoras, após os picos acima de R$ 6 no início do ano, e o desemprego está em queda.

O governo não teve nem tempo de comemorar essas boas notícias. Além de ter de lidar com a crise do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), viu sua aprovação chegar a 28%, a segunda mais baixa já registrada e três vezes menor do que os índices com que Lula deixou o segundo mandato, em 2010.

A comemoração que não veio

A equipe econômica estava entusiasmada com o resultado. Membros do Planalto, da Fazenda e do Orçamento têm comemorado e repetido que, agora, "até o mercado" reconhece o caminho tomado pelo governo —promessa feita ao Congresso na carta sobre o segundo biênio da gestão, no início do ano.

Este bom humor não tem repercutido. Na mesma pesquisa do Datafolha, quase dois terços do eleitorado (58%) diz que não confia em Lula. Desanimados, aliados se dizem "sufocados" por "uma crise atrás de outra".

As pesquisas internas tampouco indicam cenários mais animadores. Levantamentos feitos pela própria Secom (Secretaria de Comunicação) indicam aumento progressivo de menções negativas nas redes sociais, em especial no WhatsApp, ferramenta popular e crucial para qualquer tipo de avaliação de imagem no Brasil.

"Fórmula repetida"

Aliados reclamam que "toda crise é igual". Eles citam o o a o: logo depois que a bomba estoura, o governo busca uma resposta institucional, o que leva alguns dias, e o presidente se mantém em silêncio. Depois, formula uma proposta e chama os presidentes do Congresso para dialogar, enquanto a oposição já pauta o debate nas redes sociais. Por fim, Lula faz a defesa do caso publicamente, mas acaba parecendo que entrou na jogada atrasado.

É uma "fórmula repetida" que não têm funcionado, lamentam. Membros da equipe econômica se lembram da "ressaca do Pix", em janeiro, quando uma portaria da Fazenda gerou uma onda de notícias falsas sobre taxar a transação digital: em plena troca da Secom, o governo demorou a reagir e foi solapado pela oposição. À época, aliados falavam em "terra arrasada".

A crise do IOF ficou longe da mesma proporção. A avaliação é que o assunto não só é mais difícil de entender como muito mais a uma faixa mais privilegiada da população. Tanto, argumentam, que, diferentemente do Pix, a reação foi do mercado, não popular —esta é a tecla em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem batido.

Auxiliares do presidente dizem que o desânimo se dá, em especial, pelo "momento da virada" estar sempre sendo adiado. A economia sempre foi o trunfo e a aposta do governo Lula e de seus apoiadores: se nem ela está resolvendo o problema de popularidade, o que resolverá?, questionam.

O ministro da Secom (Secretaria de Comunicação), Sidônio Palmeira, está sendo cada vez mais cobrado. Petistas e aliados do ex-ministro Paulo Pimenta lembram que a aprovação do governo já era baixa (35%) quando ele saiu, em janeiro, mas superior à de agora.

Única esperança

Aliados repetem e mantêm a máxima: se der certo em 2026, dará porque é Lula, mas não escondem a preocupação. Eles dizem que o núcleo duro do governo já entendeu que a relação de forças com o Congresso mudou, com elogios à nova ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, mas o governo continua patinando ao lidar com o grande público.

Se antes o debate era se Lula deveria se desencastelar ou não, hoje é o que ele faz ao se desencastelar. Entre palacianos, há divergências, por exemplo, se ele deveria ou não fazer longas viagens como a da França: uns dizem que é importante como pauta econômica e internacional; outros pontuam que pega mal em meio à crise inflacionária.

Como reverter este quadro é a prioridade número 1 desde janeiro. Lula tem se reunido quase diariamente com Sidônio e o secretário de Imprensa, Laércio Portela, para que todos os os do governo sejam alinhados às estratégias da comunicação, mas aliados dizem que ainda não conseguiram encontrar este meio de virada.

Os preços também precisam cair ainda mais, dizem auxiliares da área econômica. Eles ponderam que a inflação está melhorando, mas está longe de ser ideal e que é nesta sensação frequente de aumento de preços que a oposição tem se fiado para ganhar a disputa de narrativa.

O ponto, lamentam, no fim, é que, com tanta crise, nem as boas notícias repercutem. Se Lula poderia estar colhendo os números que plantou com Haddad e mostrando para todos, tem de ficar defendendo o ministro frente ao Congresso e rebatendo vídeos de redes sociais.

Quando chegar 2026, eles dizem apostar que o nome de Lula (e o peso da máquina) ainda vingam, mas se perguntam cada vez mais a que preço.

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