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Governo italiano diz que polícia não sabe onde está Carla Zambelli

do UOL

Janaina Cesar

Colaboração para o UOL, de Veneza (Itália)

13/06/2025 07h21Atualizada em 13/06/2025 11h56

O governo da Itália afirmou hoje que não sabe onde está a deputada licenciada Carla Zambelli (PL-SP), alvo de um mandado de prisão internacional. A declaração foi feita pela vice-ministra do Interior, Wanda Ferro, em resposta à interpelação parlamentar do deputado de esquerda Angelo Bonelli.

O que aconteceu

Nome de Zambelli não constava como procurado nos bancos de dados da polícia quando a deputada chegou à Itália, disse a vice-ministra. Segundo Ferro, a parlamentar brasileira desembarcou no aeroporto de Fiumicino, nos arredores de Roma, no dia 5 de junho, às 11h40, em um voo vindo de Miami, utilizando aporte italiano. Porém, o alerta vermelho da Interpol só foi publicado às 16h24 daquele mesmo dia, horas depois da chegada de Zambelli, justificou. "Essa defasagem de tempo não permitiu à polícia italiana executar qualquer medida de detenção."

"Esta resposta do governo é absurda e inaceitável", disse Bonelli ao UOL. "O governo italiano sabia que Zambelli estava chegando a Roma, não apenas porque estava escrito em todos os jornais, mas porque eu havia informado o governo 36 horas antes de sua chegada à Itália."

"As investigações estão em andamento, mas até agora não foi possível localizar a sra. Zambelli", declarou a vice-ministra. "As apurações prosseguem em colaboração com as autoridades brasileiras, e os dados já foram compartilhados com a Procuradoria de Roma", completou a representante do governo de Giorgia Meloni, primeira política da ultradireita no poder desde o ditador Benito Mussolini.

A resposta revoltou o deputado Bonelli, que acusou o governo de omissão deliberada. O líder da Aliança Verde e de Esquerda e do Movimento Europa Verde classificou a situação como "absurda e inaceitável" e afirmou que o governo italiano já sabia da chegada antes mesmo da publicação do alerta da Interpol. Em maio, Zambelli foi condenada a 10 anos de prisão e à perda de mandato por ter invadido o sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). A decisão foi por unanimidade na Primeira Turma do STF (5 a 0).

Segundo o deputado, o governo permitiu a fuga porque não monitorou a brasileira. "O governo italiano é responsável pelo ocorrido. Eles deixaram uma pessoa procurada escapar e agora dizem que não sabem onde ela está. É uma vergonha para o país. Mas outra notícia grave é que os filhos de Bolsonaro, Flávio, Eduardo e Carlos obtiveram a cidadania italiana", disse.

Bonelli, durante a réplica no Parlamento, acusou o governo Meloni de acobertar Zambelli por razões ideológicas e diplomáticas. Segundo ele, é evidente o vínculo político entre a Lega, partido da base governista italiana, e o ex-presidente Jair Bolsonaro, do qual Zambelli foi uma das principais aliadas até o rompimento após as eleições. "A Itália não pode se tornar o paraíso dos golpistas e criminosos internacionais. O mundo sabe, o governo brasileiro sabe, que o governo italiano permitiu a entrada de Zambelli sem qualquer monitoramento."

O parlamentar também destacou a disparidade no tratamento dado a jovens imigrantes de segunda geração na Itália. "Colocam vigilância até em meninos filhos de imigrantes. E quando chega uma procurada internacional, dizem que não sabem onde está? Isso é escandaloso", afirmou.

Viagem de Zambelli foi interpretada como fuga pela Justiça brasileira, que decretou o pedido de prisão. A deputada licenciada é considerada foragida e foi incluída na lista de procurados da Interpol. O UOL procurou a assessoria de Carla Zambelli e aguarda um posicionamento.

A condenação no STF

STF rejeitou os recursos da defesa de Zambelli por unanimidade na semana ada. Agora, caso seja detida, a prisão já não é mais preventiva e vai contar para o cumprimento da pena. Segundo a denúncia, a parlamentar contratou um hacker para inserir um mandado de prisão contra o ministro Moraes, assinado por ele mesmo.

Ministério da Justiça enviou ao Itamaraty o pedido de extradição da deputada licenciada, após determinação de Moraes, do STF. "O Ministério da Justiça e Segurança Pública recebeu do Supremo Tribunal Federal a documentação com o pedido de extradição de Carla Zambelli Salgado de Oliveira", disse a pasta em nota, ontem. "O DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional) verificou a conformidade do pedido com o Tratado de Extradição firmado entre Brasil e Itália."

Advogado deixou o caso momentos após a deputada anunciar que tinha deixado o país. Em nota enviada à imprensa, Daniel Bialski disse que foi apenas "avisado" sobre a viagem de Zambelli e que deixaria o cargo "por motivos de foro íntimo".

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