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Cid depõe à PF sobre possível fuga, mantém acordo de delação e é liberado

do UOL

Do UOL, em Brasília

13/06/2025 11h22Atualizada em 13/06/2025 16h23

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), depôs à Polícia Federal por cerca de duas horas e meia sobre a tentativa de conseguir um aporte português e eventualmente fugir do Brasil. Ele foi liberado e teve o acordo de delação mantido.

O que aconteceu

Cid foi com seus advogados. Ele chegou à corporação às 10h56, acompanhado de seu advogado Cezar Bittencourt, em Brasília. Ele foi ouvido somente pelo delegado da PF Fabio Shor. O ministro Alexandre de Moraes não esteve presente.

Tenente-coronel não foi preso após ser ouvido. Ele terminou o depoimento por volta das 13h30 e foi liberado. A defesa levou o militar para sua casa, em Brasília, e saiu sem falar com a imprensa.

Acordo de delação continua mantido. Ele precisa cumprir as medidas cautelares determinadas pelo Supremo, como utilizar tornozeleira eletrônica, proibição de usar redes sociais e fazer recolhimento domiciliar noturno. Os benefícios estão condicionados à colaboração de Cid, que precisa contar tudo o que sabe sempre que foi requisitado pelas autoridades, sem mentir nem ocultar nada. Tudo o que Cid já apresentou às autoridades judiciais segue válido, assim como seus depoimentos anteriores.

Delator mostrou agem de volta de seus familiares e falou da programação nos EUA. A esposa, uma das filhas e os pais de Cid foram para os Estados Unidos em 30 de maio e voltam em 20 de junho. Segundo apurou o UOL, o objetivo da viagem era participar do aniversário de 15 anos de uma sobrinha e da formatura de um outro sobrinho de Cid em Orlando. Giovana, outra filha de Cid, viajou hoje para os Estados Unidos. Ela não foi com os outros porque participava de uma competição de hipismo.

cid - Sergio Lima/AFP - Sergio Lima/AFP
Mauro Cid deixa a Polícia Federal após depoimento nesta sexta
Imagem: Sergio Lima/AFP

PF apura se Cid tentou fugir do Brasil. Investigações mostraram que o ex-ministro do Turismo Gilson Machado tentou obter um aporte português para o tenente-coronel no consulado de Portugal no Recife em 12 de maio deste ano.

PGR viu risco de fuga após família de Cid viajar. A PGR (Procuradoria-Geral da República) pediu a Alexandre de Moraes, relator da ação no STF (Supremo Tribunal Federal), que fosse ordenada a prisão de Machado e feitas buscas na casa de Cid.

Machado, aliado de Bolsonaro, foi preso hoje no Recife. Na última terça, o ex-ministro havia dito ao UOL que ficou sabendo da investigação pela imprensa e que não tinha ido a consulado nenhum.

O militar itiu que solicitou cidadania portuguesa em 2023, mas que não tinha conhecimento da iniciativa de Machado. Ao STF, a defesa de Cid disse que o pedido foi em 11 de janeiro de 2023 —logo depois dos atos golpistas de 8 de Janeiro. Segundo o advogado Cezar Bittencourt, o pedido foi feito "única e exclusivamente" porque a esposa e filhas de Cid já têm a cidadania.

Cid e Machado não mantiveram contato. Segundo apurou o UOL, os dois não se falam desde o fim do governo Bolsonaro. O próprio Cid já teria comunicado antes ao STF que não possui aporte português. Cid teria demonstrado estranhamento com a informação, já que, para pedir o aporte, a própria pessoa tem que ir à embaixada e fazer as fotos para o documento.

Cid pediu para falar no depoimento sobre o perfil no Instagram. O próprio colaborador pediu para explicar sobre o perfil atribuído a ele que, segundo a revista Veja, teria sido utilizado para vazar detalhes da delação nas redes sociais. Segundo apurou o UOL, o delator afirmou que as mensagens divulgadas pela revista "seriam uma montagem" e que ele nunca teria utilizado aquele perfil.

A delação de Mauro Cid é central para a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra os acusados de tramarem um golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder após a derrota nas eleições de 2022. O ex-presidente, Mauro Cid e mais seis aliados são acusados de cinco crimes: organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Se condenados, as penas somadas para cada um podem chegar a 46 anos de prisão.

Como réu, Cid foi interrogado pelo STF nesta semana, e pontos da delação e do depoimento são contestados pelos demais acusados. Bolsonaro, por exemplo, disse que não tratou de golpe, como disse o tenente-coronel, apenas discutiu "hipóteses previstas na Constituição" com os comandantes das Forças Armadas.

Cid já foi preso em 2023 e 2024. A primeira vez foi sob a acusação de ter fraudado o cartão de vacinação. Ele ficou preso por cinco meses, e foi solto cinco meses depois após fechar o acordo de delação premiada. A segunda foi por causa de áudios vazados de Cid, criticando o STF e a PF e dizendo que teria sido coagido em seus depoimentos. Depois de dois meses, ele foi solto e disse que as mensagens foram apenas "desabafos" e não correspondem à verdade.

STF vai decidir ao final do julgamento se mantém os benefícios previstos no acordo. Eles são avaliados ao final do julgamento da ação penal, quando o Supremo vai avaliar se a colaboração foi efetiva e se é necessária alguma medida complementar para punir Cid.

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